SER RIBEIRINHO | construção e conceito


esteio. s. m. 1. Peça para escorar; escora. 2. [ gurado] Amparo; sustentáculo · esteios s. m. pl. 3. [Botânica] Partes acessórias com que as plantas se prendem aos corpos que estão ao seu alcance. 4. [Portugal: Trás-os- Montes] Amariço do gado.

aguapé. [De origem tupi] s. m. Bras. Bot. 1. Designação comum a várias plantas aquáticas utuantes de ores violáceas e ornamentais, e das quais a Eichhornia crassipes, da família das pontederiáceas, é a mais comum; mururé, orelha-de-veado, pavoá, rainha do lago, uapé, uapê. 2. Flecha (10). 3. Trama vegetal constituída de plantas aquáticas que crescem na superfície das águas dos rios, lagos e pantanais, e que, prendendo-se mutuamente, formam um tapete capaz de sustentar um homem sobre ele deitado.


Esteios, escoras no habitar do ser marajoara.


Presentes na fundação das moradias ribeirinhas, os esteios marajoaras são comumente esculpidos em acapú. Fincados ao solo, imersos sob águas durante a cheia e expostos ao calor durante a seca, sua madeira se adapta e resiste inquebrantável às intempéries ao longo das décadas.


Ao contrário das colônias de aguapés que flutuam pelos rios à deriva, presas umas as outras por outro tipo de esteios, o SER RIBEIRINHO vive alocado, fixo sobre estes, rodeado pela imprecisão das águas. Levanta sua morada sobre a superfície alagada que não acolhe com a mesma naturalidade o peso e rigidez da alvenaria. As habitações tradicionais se utilizam dos recursos que o rodeiam: acapú para a estrutura e parte dos assoalhos, sucupira subindo paredes, cupiúba acolhendo as palhas trançadas de ubuçú dos telhados.


As construções frequentemente se sucedem conectadas de forma linear por estreitas passarelas que originam vilas, interligando relações humanas amparadas, muitas vezes, por laços familiares. Como nos esteios das habitações, são conexões que se relacionam com um entorno em constante transformação, onde alagadiços se enchem navegáveis ao sabor das chuvas ou secam abrindo poeirentas estradas.


A flexibilidade e adaptabilidade dos materiais e formas de construção acaba por sedimentar os laços de afeto destes núcleos familiares. Pensando nestas associações, alguns elementos passaram a orbitar a construção da identidade visual do projeto SER RIBEIRINHO. Observando a interação entre a verticalidade das hastes presentes na estrutura das fontes tipográficas e o volume de cada letra, um paralelo construtivo começou a dar forma ao logotipo. Hastes-esteios vieram dar conta do peso dos tipos, postos de forma linear acolhendo este SER, que tem parte de sua identidade refletida nesta habitação que diz tanto sobre seu lugar-origem quanto sobre si.


A presença dos aguapés, vegetação abundante deste habitat, alude à relação entre fluir e fincar, da flexibilidade necessária para se fixar neste ambiente flutuante. Seus contornos, conseguidos a partir do rastro das próprias folhas entintadas e decalcadas na impressão em monotipia, se contrapõe ao logotipo estruturado sobre “esteios”, criando uma dinâmica simbólica entre os elementos desta identidade-entorno do SER RIBEIRINHO.

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